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O Despertar da Mente

O Despertar da Mente

De Olhos Fixos no Sol

EU SOU EU SOU, 07.02.21

Todos enfrentamos o mesmo terror, a ferida da mortalidade, a minhoca que habita no coração da existência.

Irvin D. Yalom

 

cover image of De Olhos Fixos no Sol

Um livro que me custou imenso ler... E no entanto, um livro que me ensinou muitíssimo e que me ajudou a encerrar um luto e a encarar a existência de outra forma. Li-o após perder o meu pai.

Alerto que até à página 58 o livro pode ser muito deconfortável...

E porquê que este livro pode ser tão perturbador para algumas sensibilidades?

1.º Porque é um livro sobre a morte... Aquele grande tabu da humanidade e porventura o nosso maior medo: encarar a nossa própria mortalidade e a de todos os que nos rodeiam e amamos;

2.º Porque o autor é psiquiatra e o livro tem muitas histórias dos seus pacientes, usadas para ilustrar alguns pontos de vista. E isso torna-o terrívelmente pessoal. Sabemos que não é uma ficção. São histórias reais de angustias, medos, culpas que povoam a mente humana e acabamos por nos espelharmos nelas.

3.º Porque o autor, tal como eu, é existencialista, isto é, considera que a nossa existência será sempre assombrada pelo facto de sabermos que iremos crescer, florescer, e inevitávelmente, murchar e morrer. E assim, tem um enfoque de procurar entender o sentido da vida e da morte - pois são face da mesma moeda.

4.º O autor não é nem religioso nem espiritual, o que torna a sua abordagem deste tema particularmente interessante, despojada de crenças... Acaba por satisfazer muitas das dúvidas dos ateus, agnósticos e também (espante-se) dos espiritualistas! 

Algumas passagens interessantes deste livro:

- Referindo-se a Heidegger refere que podemos assumir dois modos de existência: o ontológico e o comum. No ontológico o enfoque está no SER em si mesmo e maravilhamo-nos com o facto de sermos e que as coisas sejam. No comum estamos maravilhados pela forma como as coisas  são no mundo. O exemplo que dá é a sua experiência com doentes oncológicos e como estes ao enfrentarem a morte passavam a viver como se cada dia fosse o último, fazendo o que gostavam , alterando prioridades, comunicando mais com quem amavam, valorizando mais as estações, a natureza e diminuindo o medo pela própria morte - passam a viver no estado ontológico.

- Refere que a ansiedade pela morte é maior quanto menos vivida for uma vida.

- A morte como sendo o NADA (sem céu, paraíso, mundo espiritual ou o quer que seja). Refere que tem pessoas que temem o NADA e já outras temem a VIDA ETERNA representada pelas religiões e sendo precedida por um terrível julgamento.

Para os que tem medo do NADA ( eu pessoalmente tinha), parafraseia Epicuro: Porquê temer a morte quando nunca teremos consciência dela? Porque estamos mortos, não sabemos que estamos mortos, e, nesse caso, de que temos receio?

Fala também do efeito rippling. Ter uma vida com propósito e deixar um legado é uma forma de perpetuarmos a nossa própria existência. Um legado não precisa de ser material, pode ser imaterial (livros, amigos, uma causa que criou ou apoiou, legado artístico).

Em relação aos que temem a VIDA ETERNA, sugere que se foquem  antes na sua vida presente neste mundo, a única que deve de ser plenamente vivida  e na qual está a traçar as traves-mestras que o sustentam, dependendo únicamente de si mudar o que não lhe agrada.

- Um ideia extraordinária é a de que a qualidade da nossa vida é determinada pela forma como interpretamos as nossas experiências , e não pelas experiências em si - uma doutrina que veio dos estóicos, a Zeno, Séneca, maro Aurélio, Espinoza, Schopenauer e Nietzche, bem como a teoria cognitivo-comportamental.

- A conectividade, as relações que se estabelece são o maior presente que se pode dar a qualquer pessoa que enfrente a morte

- Realizar o seu potencial  como ser humano reduz a ansiedade de morte. Logo, evite adiar sonhos, projectos.

-  Refere que  a nossa vida não está escrita ou predefinida e cabe a cada um de nós procurar uma existência com maior propósito, significado e ser feliz.

Maravilhoso, não concordam?

Se tiverem interesse pelo tema, não deixem de ler este livro riquíssimo que além destes aspectos que destaquei tem muitas outras reflexões interessantes.

Boa semana!

 

A verdade e a mentira

EU SOU EU SOU, 06.04.20

A verdade e a mentira.png

 

Venho hoje contar-vos uma lenda judaica muito bonita acerca da verdade e da mentira.

Certa vez, a Mentira e a Verdade encontraram-se.

A Mentira, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe:
- "Bom dia, dona Verdade!"

Zelosa do seu caráter, a Verdade, ouvindo tal saudação, foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não havia nuvens de chuva; os pássaros cantavam; não havia cheiro de fumo de fogueiras no campo; tudo parecia perfeito.

Tendo-se assegurado de que realmente era um bom dia, respondeu:- "Bom dia, dona Mentira!"

- "Está muito calor hoje, não é mesmo?", disse a Mentira.

Realmente o dia estava quente. Desse modo, vendo que a mentira estava a ser sincera, começou a relaxar. Porque motivo desconfiar, se a Mentira parecia tão cordial e "verdadeira"?

Diante do calor insuportável, a Mentira, num gesto de aparente amizade, convidou a Verdade para juntas banharem-se no rio.

Como não havia mais ninguém por perto, a Mentira despiu-se de suas vestes, saltou para a  água e, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe, insistentemente:

- "Vem, dona Verdade, a água está uma delícia, simplesmente maravilhosa."

O convite parecia irrecusável. Assim sendo, dona Verdade, sem duvidar da Mentira, despiu-se de suas vestes, saltou para a água e deu um bom mergulho.

Ao ver que a Verdade tinha mergulhado na água, rapidamente a Mentira saíu de lá, em segundos vestiu-se com as roupas da Verdade que estavam à margem e foi embora sorrateira.

Ao costatar que as suas roupas tinham sido furtadas, a Verdade saiu da água e, por sua vez - ciosa de sua reputação -, recusou-se a vestir-se com as roupas da Mentira, deixadas para trás.

Certa da sua pureza e inocência, nada tendo do que se envergonhar e não tendo outra opção que lhe fosse coerente, saiu nua para a rua.

Desde então que a mentira veste as vestes da verdade e a verdade vai núa e ninguém gosta de a encarar...

Desde então, aos olhos das pessoas, ficou mais fácil aceitar a Mentira vestida com as roupas da Verdade do que aceitar a Verdade nua e crua...

Já reparou que na história da humanidade houve muitos casos de pessoas que sofreram julgamentos, tortura e morte, apenas por terem dito a verdade?

Nada é mais revolucionário do que dizer a verdade!

Ao longo da minha vida já ouvi muitas vezes as pessoas interrogarem-se que gostariam de saber a verdade acerca de alguma coisa nas suas vidas... Eu normalmente pergunto: "Tens a certeza que queres saber a verdade?". É que a maioria das pessoas não está preparada para a verdade...

Para dizer a verdade.

Para ouvir a verdade.

Para viver em verdade... Consigo mesmo e com os outros!

Gente anónima... cidadão comum!

EU SOU EU SOU, 01.04.20

A chama.png

 

 

A História da humanidade faz-se de grandes Homens e do cidadão comum.

Grandes políticos, empresários, desportistas, artistas, actores, cientistas, escritores, líderes, filósofos... Deixaram importante legado à humanidade que em muitos casos se traduziu em conhecimento - e mais ainda - em sabedoria. 

Sem o contributo de Platão, Sócrates, Aristóteles, Hermes Trimegistus, Da Vinci, Tesla, Jesus Cristo, Buda, Lao Tsé Tung, Einstein e tantos outros mais, seríamos mais pobres. As suas mentes brilhantes, as suas descobertas e ensinamentos foram fundamentais para o progresso social, económico, tecnológico e cultural que conhecemos hoje na humanidade.

Porém, muito desse saber ter-se-ía perdido no tempo se não fosse a intervenção de muitos cidadãos anónimos que guardaram essas preciosidades e permitiram que as mesmas chegassem hoje ao nosso conhecimento.

É preciso perceber que o percurso da humanidade não tem sido linear. De tempos em tempos a destruição causada  por epidemias, crises económicas, guerras, e a inquisição ameaçaram esse legado. Valeu a intervenção dessa gente anónima, amante do saber, permitindo-nos que hoje-em-dia possamos estudá-los, revisitá-los e apreciá-los na sua intemporalidade e beleza. E também retirando os seus ensinamentos tão necessários para o nosso progresso individual e colectivo.

Uma sociedade sem história e sem memória, seria uma sociedade sem evolução possível. Estariamos sempre a recomeçar do zero e a perder essas pérolas de sabedoria incessantemente...

Somos todos especiais, únicos e temos todos um papel muito importante, independentemente, dos papéis profissionais ou sociais que representamos na vida.

Se estivermos autoconscientes, responsáveis, agradecidos pelo que temos, solidários com os nossos semelhantes, poderemos expandir ainda mais o nosso ser. Refiro-me a impactar positivamente mais pessoas pela alegria de ajudar (Eu Superior) e não pela popularidade que isso lhe vai trazer (EGO).

Lembre-se: comece dentro de si. As respostas estão em si mesmo e não nas circunstâncias que o rodeiam.

E apesar de estarmos a atravessar uma fase tão delicada quanto esta onde muitas pessoas irão necessitar de apoio médico, económico e psicológico, agradeça pelo que tem e pense em formas de auxiliar quem mais necessita.

Esteja na vida para DAR, sem esperar nada em troca. E não lhe faltará nada...

Reflicta se no seu percurso de vida esteve mais à espera de receber, e se deu proporcionalmente...