Pensamentos soltos acerca de responsabilidade, culpa e errar
1.º A diferença entre ter culpa e ter responsabilidade
Ter responsabilidade é assumir as decisões que toma e as suas consequências, sejam elas pouco ou muito negativas. É um sentimento que nos impele a agir pois tem estas componentes:
-Identificar: olhar para o erro cometido;
- Compreensão: tentar percebê-lo (onde errei, o que fiz e não devia ter feito, quais as suas consequências);
- Solução: perceber que também é responsável por repará-lo (caso seja possível) ou por mudar alguma coisa para evitar no futuro repetir esse mesmo erro.
Já ter culpa é sentir remorsos e não conseguir sair dali. A culpa é estagnação pois conduz a pessoa a martirizar-se pelo que é um sentimento absolutamente inútil.
Assim, no futuro em vez de usar o termo "eu sou culpada por" ou "a culpa é minha", procure usar antes " eu sou a responsável" ou "a responsabilidade é minha". E depois disponha-se a agir para minimizar as consequências do seu erro e também a aprender o necessário para que não ocorra repetição no futuro.
2.º Assumir os próprios erros é sair da vitimização
Somos educados a pensar de forma separada: nós e os outros. Isso é verdadeiro na dimensão física ou material onde vivemos (a matrix), porém, no mundo energético e espiritual simplesmente está tudo ligado entre si, estamos todos ligados uns aos outros por uma teia invisível.
E de que forma isto se relaciona com o errar, a culpa e a responsabilidade?
Quando algo de negativo ocorre na nossa vida resultante de um conflito com alguém (discussão, divórcio, despedimento, processo em tribunal), quase todos nós criamos uma narrativa interna do que acabou de ocorrer. Nessa narrativa tendemos a procurar responsáveis (muitas vezes culpados) do sucedido e acentuamos o separatismo nós e os outros... Nós vítimas (ingénuos, fragéis, sem maldade) e os outros mauzões sem escrúpulos que nos fizeram mal. Nem nós fomos tão santos assim, nem os outros porventura tão maus assim como os pintamos... Se não nos soubermos perdoar e aos outros vamos viver atormentados e sem paz e harmonia interior.
Esta tentativa de culpar os outros esconde sempre a triste realidade de que somos nós que na verdade nos sentimos culpados. Somos nós que paralizamos no sitio escuro e doloroso da recriminação...E que não nos perdoamos. Se nos perdoarmos conseguimos perdoar aos outros. E perdoar não é passar uma borracha ou fingir que não aconteceu. É libertarmo-nos desse acontecimento e prosseguirmos com a nossa vida.
Como pude acreditar nesta pessoa? Como permiti determinada coisa? Porquê que me fizeram isto? - esta é a armadilha da culpa e da vitimização. A maioria de nós nunca teve ninguém a explicar a diferença entre ser responsável e culpado.
Mas para sairmos desta vitimização temos de tentar perceber a parte dos outros e também a nossa parte nos eventos decorridos. Negar a nossa própria responsabilidade em qualquer acontecimento é negar a possibilidade de crescer em maturidade e de transmutar emoções. Assumir a nossa própria responsabilidade é também APRENDER COM OS ERROS. É um ato de humildade e deve ser feito sem culpa.
3.º Ver o ponto de vista do outro não é validá-lo, aprová-lo ou compactuar com o mesmo
Tudo se resume a uma questão de VALORES. O que é importante para si, pode não o ser para outras pessoas. Lembre-se que nós pensamos e atuamos em função daquilo em que acreditamos.
Assim, a maior parte dos conflitos tem subjacente conflitos de valores. Saiba aceitar o comportamento do outro mesmo que não concorde com o mesmo. Claro que há sempre comportamentos que são moralmente inaceitáveis, por mais humanismo e positivismo que usemos.
Porém, num conflito há sempre pelo menos duas partes... Duas versões dos acontecimentos, duas opiniões... Não existe apenas a nossa.
E lembremos que neste mundo nada é 100%. Quanto muito será 99.99999%.
Recordemos para concluir alguns pressupostos da PNL que se relacionam com este tema:
TODO O COMPORTAMENTO TEM UMA INTENÇÃO POSITIVA (todas as atitudes humanas tem subjacente uma intenção positiva para o próprio).
O MAPA NÃO É O TERRITÓRIO ( a forma como vemos a realidade não é a realidade em si mesma).
AS PESSOAS FAZEM A MELHOR ESCOLHA QUE PODEM NO MOMENTO,DE ACORDO COM SEU MODELO DE MUNDO (compreender que nem você é melhor que o outro nem o outro é melhor que você).
O VALOR DE UM INDIVIDUO É CONSTANTE ENQUANTO O SEU COMPORTAMENTO PODE MUDAR (o valor de cada um é intrínseco e não depende do seu comportamento).
A culpa petrifica mas a responsabilidade mobiliza a se reparar o erro. A culpa pode ser considerada uma auto-condenação sem perdão que justifica e muitas vezes reafirma que não existe nada mais a fazer mas enquanto não nos movimentarmos para amenizar o erro, não haverá diminuição da pena e muito menos absolvição. O inferno começa em vida para todo aquele que erra e não reconhece a culpa.