Sobre a pluralidade de pensamento e a imaturidade do ser humano
Eu creio que no dia em que o Estado quiser delimitar aquilo que podemos dizer ou não, fazer ou não e pensar ou não, estaremos a entrar num caminho muito perigoso em termos de democracia e de liberdade. E eu creio que estamos perante esse abismo.
Eu explico. Claro que a ética moral vigente estabeleceu limites ao que se pode dizer ou fazer e foi com base nisso que a sociedade humana criou as suas leis e regras pelas quais orientamos a nossa conduta. Essas leis e regras tem em vista o bem comum (o bem da generalidade das pessoas). A justiça intervem no processo aplicando sanções e mediando conflitos a quem desrespeita essas leis e regras.
No estádio evolutivo em que a generalidade da humanidade está, e porque temos uma ética moral rudimentar, necessitamos da intervenção da justiça quando ocorrem desrespeitos às leis instituídas.
Na sociedade do futuro, a que se perspectiva criar com a ascensão do planeta, as pessoas estarão imbuidas de elevados valores e padrões morais de conduta e será desnecessário o policiamento e o julgamento.
Para mim ontem já era tarde... Estou francamente farta de assistir ao monolitismo das notícias dos media e das opiniões das pessoas... Hoje em dia parece ser blasfémia e ofensa pensar de forma diferente da maioria das pessoas. As pessoas não conseguem respeitar opiniões divergentes, passam logo para o ataque e a ofensa!
Vejamos um exemplo recente e atual:
Na Sic notícias foi lançada uma reportagem acerca da família Mesquita Guimarães que se recusa deixar os filhos participarem nas aulas de cidadania por estarem em desacordo com alguns dos temas que lá são abordados tais como sexualidade, orientação sexual, aborto, mudança de sexo e afins. Estes pais consideram que esses temas são abordados no seio familiar e segundo os valores religiosos que eles querem transmitir aos seus filhos.
Parece algo meio arcaico. E a luta que eles resolverem prosseguir contra o Estado, parece uma grande doideira, pois não há forma de impedir que certos e determinados conteudos cheguem aos nossos filhos. Não numa sociedade globalizada e onde a internet é fonte para tudo: o bom e o mau.
Os míúdos são excelentes alunos, de quadro de honra, e parecem ser jovens muito educados.
Foi chamada uma professora especialista da Escola Superior de Educação para opinar: Maria João Silva. A senhora que esteve por detrás da criação desta disciplina defendeu os seus argumentos, como seria de esperar, não? Onde para a imparcialidade jornalistica? Outra opinião de outra especialista? - não é preciso!
Foi entrevistada uma professora que com fantoches faz teatros a crianças da pré-escola onde se aborda a questão do toque inapropriado, como exemplo. Não percebi que outros teatros se apresentam... Eu sei que isso também se faz com crianças que foram abusadas sexualmente. Dúvido que esses teatrinhos possam prevenir situações de abuso. Dúvido que esses teatrinhos levem mais crianças a denunciar... simplesmente porque a generalidade delas é ameaçada pelo agressor (normalmente adulto e físicamente mais forte), logo tem medo e revela os abusos através de outras atitudes. Falem com especialistas, psicólogos e técnicos da CPCJ, pois poderão ter uma informação mais científica e realista... Então a pergunta: para quê esses teatrinhos?
Outro aspeto: as crianças fazem muitas coisas por imitação, daquilo que observam nos media e nas suas vidas. Se um menino de 3 ou 4 anos se agarrar a uma menina estará a estrupá-la? Não, pois não? - isso sucedeu com dois colegas do meu filho que se fecharam na casa de banho, despiram-se e agarraram-se e disseram que se estavam a amar como os pais.
Nessa idade a criança é amoral. Age por impulso e instinto. Qual o sentido de passar estes conteúdos? Não parece ser o momento! Mas se duvidam perguntem a psicólogos especializados na infância...
Vou pegar no exemplo da condução. Porque motivo não se dá a carta aos jovens antes dos 18 anos? Porque a maioria não terá a maturidade física e psiquica para assumir a responsabilidade de conduzir, certo?
Na minha humilde opinião, na idade até aos 5 anos devemos apenas de responder às dúvidas das crianças em matéria de sexualidade sem dar grande desenvolvimento e usando metáforas. Não vejo, muito sinceramente utilidade de abordar este tema na pré-escola. Porque carga de água o Estado acha ser o momento, transcende o meu humilde entendimento e isso para mim foi mais chocante que saber que a tal família está em contenda por causa da disciplina de cidadania...
Quanto aos miudos da reportagem, se estes não frequentarem esta disciplina não vejo que mal se estará a gerar para a sociedade ou para eles próprios, até porque acho que poderia ser uma disciplina facultativa como religião e moral já o é.
Acho incrível ter sido aberto um processo na CPCJ contra os pais, e mais incrível ainda que o Estado queira ter a posse do aluno quando este está na escola, determinando o que lhe ensinar mesmo que isso vá contra os valores educacionais dos pais. E peço aqui que se distanciem deste caso em apreço. Os nossos filhos são do estado ou estão à vossa guarda e proteção? Pode o estado intervir quando não existem provas de abusos contra os filhos? Mas se existirem claro que o caso muda...
Eu não vou aqui discutir se estes temas da sexualidade são ou não para se abordar nesta disciplina ou se são para se abordar na família. O que é interessante é ler os comentários do público geral a esta reportagem e que indicam bem tudo o que eu escrevi no início deste post.
Ora uma larga maioria de pessoas expressou-se contra a posição dos pais, irritaram-se muito com aquele pai e resolverem tecer comentários jocosos ao jovem Tiago... Insinuaram inclusivé que este será homossexual. E se for?!
O que observei foi um conjunto de pessoas na ânsia de terem razão e irritadas pelos pais, direccionarem os seus ataques para um jovem menor de 14 anos. Muito triste e deplorável e indicador de imaturidade moral.
Enfim, é o mundo que temos: um mundo de incoerências! Pessoas que advogam a liberdade de ensino da sexualidade, pluralismo de escolhas sexuais, são as mesmas que desdenham de um jovem de 14 anos, utilizando-o como arma de arremesso contra os pais, ou aquele pai!
É caso para perguntar: será que vale tudo para provar apenas que tenho razão? A ofensa do outro dá-me o direito de ser ofensivo?
É ofensivo pensar diferente da maioria?
Então quer-se a inclusão ou só se pode falar de inclusão no que é a moda do momento?
Dá que pensar...