Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

O Despertar da Mente

O Despertar da Mente

Pessoas que nos inspiram

Cuidadores.jpg

De olhar triste e bondoso, ela cuida do marido doente há mais de uma década... Dá-lhe banho, veste-o, alimenta-o por uma sonda, dá a medicação... Proporciona-lhe a dignidade possível mediante a doença voraz e devastadora... e o diagnóstico sem qualquer esperança de cura...

Ela anda sempre com pressa e foge ao desconforto das conversas que está farta de ouvir, da pena que sente nos outros...

Ele não sabe em que dia está e não reconhece ninguém. Acamado e fortemente medicado vive num mundo só seu... Raramente tem momentos de lucidez...

É duro assistir à decadência de alguém que se ama e com quem se partilharam alguns dos melhores momentos da vida... E no entanto, será a memória desses momentos felizes a par de uma fé inabalável de que somos mais do que a nossa existência física, que lhe dá alento.

Quantos casos existem de pessoas doentes crónicas e terminais abandonadas pelas famílias?

O apoio domiciliário presta uma ajuda, alívia um pouquinho a carga da situação, porém, a responsabilidade maior é dela. 

Pessoas como ela são um verdadeiro exemplo de amor incondicional ao próximo, de resiliência, de coragem e de superação... Não há mesmo palavras! Porém, ninguém é de ferro! 

Outra pessoa fantástica é M... Ainda presentemente com quase setenta anos é uma mulher bonita e de grande elegância. As olheiras por debaixo da maquiagem revelam noites mal dormidas, ansiedades e muitas preocupações. Não há dinheiro para recorrer a lares e essa também não era a vontade dele nem a dos filhos que com as suas vidas profissionais e pessoais mal a podem apoiar... Mas há um cansaço e um desespero sincero de alguém que sente estar a perder a sua saúde na tentativa de ajudar outra pessoa e é movida pelos princípios e sentimentos mais nobres de humanidade...

Eu disse-lhe: "Para nos doarmos temos de ter para dar... Caso contrário, faremos estrago! Cuide de si! Lembre-se de si! Não é egoísmo é mesmo uma questão de sobrevivência mental."

Sugeri que se inscreve-se na universidade sénior para ter a oportunidade de socializar com outras pessoas, aprender coisas novas e distrair-se um pouco daquele quotidiano de doença e de prestação de cuidados... Veio mais tarde dizer-me que o tinha feito e que sentia que a estava a ajudar muito. Eram momentos de lufada de ar fresco!

Será que eu teria a mesma resiliência e coragem destas duas mulheres maravilhosas com as quais me cruzei? Não sei... É uma situação muito dolorosa e cruel para a qual somos na maioria uns impreparados. Vivemos numa sociedade onde se valoriza a juventude, a saúde, a alegria... A morte, a doença, a velhice são tabu!

Para quando um estatuto de proteção para os cuidadores informais? Os cuidadores que abdicam das suas vidas profissionais e pessoais durante longos períodos, por vezes anos, sentem cansaço, stress, solidão e falta de apoio humano e financeiro...

Não está certo!

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.