8.1. Perspetiva interna dos problemas
Quando começamos a perceber que tudo o que perspectivamos como problema é na verdade um desafio para crescermos e nos transcendermos, começamos a viver em maturidade e em responsabilidade. Cada pedra no caminho é uma oportunidade de nos revermos e à nossa forma de pensar, de sentir, de nos relacionarmos com os outros e com a vida. Sem esta permamente revisão do nosso próprio comportamento auto-condenamo-nos a viver a mesma vida de sempre e a colher "mais do mesmo".
Deixamos de procurar culpados nas circunstâncias ou nos outros, pois ganhamos uma expansão da nossa capacidade de compreensão, de empatia e de compaixão. Compreendemos que aquilo que não gostamos no outro está em nós ou em alguém muito próximo a nós. Criamos mais empatia pelos nossos erros e fraquezas e as dos outros (que são as nossas espelhadas). Temos maior compaixão pelas nossas próprias dificuldades e as dos outros pois ninguém consegue dar aquilo que não tem!
O foco passa a ser interno. Deixamos de questionar e julgar tanto as pessoas e as circunstâncias pois entendemos que elas apenas espelham-nos. O foco deixa de ser o que o outro disse ou fez mas sim a minha resposta emocional e os meus próprios pensamentos.
Porquê que aquilo me incomodou tanto?
Que emoções senti?
Tenho como resolver?
Como reagi? Fui apropriado? Consegui expressar o que eu realmente sentia e pensava?
QUAIS AS NECESSIDADES INTERNAS QUE NÃO ESTÃO A SER ATENDIDAS?
Esta pergunta foi colocada por Marshall Rosenberg no seu livro Comunicação Não Violenta. Um livro que aborda a temática da comunicação a partir de uma perspetiva construtiva de estabelecimento de pontes de compreensão, de paz e de entendimento entre as pessoas, mesmo em momentos de tensão e de conflito. Não é um livro que ensine a manipular ou a persuadir vendas aos outros, como tantos que há no mercado.
É antes um livro que coloca brilhantemente a questão de que todos tem uma necessidade por satisfazer quando interagimos uns com outros. Saber identificar as necessidades de cada parte e encontrar formas de ambas serem atendidas é construir a própria paz. Ter a capacidade de empatia de nos colocarmos no lugar do outro e entender o que este poderá estar a sentir e que necessidade ele manifesta é meio caminho andado para evitar os juízos de valor que levam à confrontação, competição e partidirização. É procurar entender alguém, mesmo que essa pessoa tenha valores e padrões de comportamento muito diferentes dos nossos.
O que ele descobriu é que não é o que outro faz que nos perturba, mas sim a nossa necessidade não satisfeita. Se fosse apenas a ação do outro, a nossa reação seria sempre a mesma. Mas não é o caso. Perante situações identicas temos reações diferentes.
Explo. Combinamos um encontro com uma amiga e esta chega um bocado atrasada.
1. Posso ficar magoada com ela e sentir que não me deu importância e daí nem respeitar o horário do nosso encontro. - necessidade de valorização pessoal.
2. Posso ficar aborrecida com ela pois tenho mais coisas planificadas para fazer nesse dia e o atraso dela implicar que me atrasarei no restante -necessidade de organização e gestão de tempo.
3. Posso aproveitar o atraso dela para estar um pouco só e reflectir na minha vida, no que tenho para fazer e esse tempo até me saber bem. - necessidade de tempo para si mesmo .
Outro exemplo dado por Marshall ocorreu quando num recreio ele foi separar uma briga e foi agredido por um rapaz com uma cotevelada. De imediato o cérebro dele começou a julgar o rapaz (antipático, violento e mimado). Mas depois ele foi ver o processo desse aluno e percebeu que ele tinha graves problemas familiares que se traduziam no seu comportamento.
Uma segunda fez ele interviu para separar esse rapaz de uma outra briga e novamente foi agredido com cotevelada. Só que desta vez ele não o julgou e apenas compreendeu que ele estava revoltado com a vida.
O livro está repleto de exercícios práticos.
Uma coisa interessante é que podemos utilizar a raiva como um despertador ou alerta de que estamos com alguma necessidade não satisfeita. Assim, sempre que a sentimos vamos questionarmo-nos porque motivo a sentimos. Da mesma forma se a identificarmos no outro também vamos tentar analisar qual a necessidade que o outro tem e que não está a ser atenduida.
Resumindo: Entender qual a nossa necessidade não satisfeita. E qual a dos outros que os levou a agir de determinada forma. Podemos assim descobrir dentro de nós emoções muito fortes para além da raiva como a triteza, a solidão, a falta de afecto, o abandono, a rejeição...
Essa mudança de paradigma pode adicionar conhecimento ao nosso processo de autoconhecimento, apaziguar as nossas emoções, aumentar a empatia e a compreensão e o diálogo com os outros.
Irei partilhar mais dois vídeos desta entrevista nos próximos posts.
Fiquem bem e fiquem em paz!
A paz do EU Sou!