3. É TUDO UMA QUESTÃO DE SORTE
Durante anos tive a crença limitante que era a sorte a ditar uma vida mais feliz. Esse pensamento adveio da comparação que fazia da minha vida em relação à vida dos que me rodeavam. Eu venho de uma geração onde os juízos de valor e as comparações eram muito frequentes. E eu também alinhava inconscientemente nisso.
O meu descontentamento nunca foi em relação à parte material e financeira pois aí sempre tive o que necessitava e nunca fui uma pessoa de grandes ambições. O meu descontentamento era em relação à parte emocional e relacional. Não me sentia satisfeita com a maioria dos relacionamentos que mantinha e tinha muita dificuldade de me entregar, algo que se notava em dois comportamentos meus: dificuldade de olhar os outros nos olhos e uma tremenda timidez.
Eu vivia para tentar obter a aprovação das outras pessoas e quando isso não acontecia eu ficava muito zangada. Eu não percebia então que o "problema" estava dentro de mim e da minha dificuldade em me amar e perdoar.
Quando vivemos para nos sentirmos aceites e validados pelos outros, perdemos a espontaneidade. Fazemos e dizemos coisas que não são sentidas mas que achamos que os outros vão gostar de ouvir e aprovar. É de um certo modo uma tentiva de manipulação, mesmo que a manipulação não seja consciente e intencional.
Quando eu era pequena eu era muito espontânea. Recusava beijar certas pessoas que eu não gostava e dizia-lhes isso! Andava descalça na rua e brincava muito com os rapazes à apanhada e a subir a árvores. Cheguei mesmo a dizer asneiras na presença de convidados e familiares por frustrarem um pedido meu! Ouvi imensas críticas a essa minha forma de ser! Começaram a incutir-me a importância do que "os outros pensam" como algo muito importante de ser conquistado.
E será que alguma vez sabemos o que os outros pensam e querem?
E somos pessoas conectadas interiormente para darmos voz ao que realmente pensamos e sentimos?
Ser mais verdadeiro e coerente com quem se é, é um salto de maturidade. Para alguns é mais fácil que para outros. Depende do condicionamento a que fomos sujeitos enquanto crescíamos.
Este modo de pensar desempoderava-me imenso porque eu não me considerava uma pessoa com sorte.
Será realmente a sorte que determina o nosso sucesso pessoal seja ele financeiro, relacional, afectivo?