Nada melhor para combater os sentimentos de escassez do que praticar com frequência a gratidão. E não basta pensar, há que escrever mesmo os motivos que o levam a sentir gratidão.
Desde que tenho a minha rotina matinal que começo cada dia em gratidão! No meu diário, todos os dias eu registo 3 motivos para me sentir grata! No fim do dia registo outros 3 motivos para me sentir grata, normalmente relacionados com algo que senti ou vivi nesse dia!
Em sociedade passam-nos uma certa ideia que agradecer é algo que se faz por educação e conveniência social. Fica bem dizer obrigado!
Também corre uma certa ideia de que há motivos para agradecer quando acontece alguma coisa grande e maravilhosa ou quando nos dão algo. Eu diria que isso é ter uma visão limitada da gratidão e da própria existência...
Agradecer não deve ser algo que exclusivamente se faz por GRANDES coisas numa vida cheia de pequeninas coisas, às quais tantas vezes nem sequer damos valor... excepto quando uma doença, um acidente, uma separação, uma morte nos leva a repensar a vida!
Ser capaz de agradecer pelas pequenas coisas da vida é conseguir viver uma vida mais feliz. É elevar a nossa vibração e abrir caminho à novidade e à prosperidade. Ou se vibra na carência e no medo ou no amor e na gratidão... há que escolher! Há que estar atento ao tipo de pensamentos e de sentimentos que vamos alimentando!
A maioria das pessoas vive em escassez, ou seja, foca primordialmente o que não tem e o que lhe falta e não entende que esse mindset a condena a uma vida menor.
Começa pela forma como somos educados: sempre com foco no erro, nos falhanços e nas comparações (as quais são sempre profundamente injustas pois ninguém é igual a ninguém)...
E porque vive na escassez cada pessoa encontra sempre pessoas mais bem-sucedidas, mais bonitas, mais ricas.... mais, mais, mais qualquer coisa que o próprio! Essa comparação gera insatisfação.
E assim se gera também a competição, a inveja, a cobiça... Muitas pessoas acham que para terem algo tem retirar, lutar, conquistar, tirar...
Como toda a gente, também fui educada na competição e na escassez. No meu caso manifestou-se num desejo consciente e inconsciente de querer provar algo aos outros porque interiormente não me achava boa o suficiente.
Noutras pessoas manifesta-se numa atitude de conquistador implacável, aquela pessoa que tenta logo aniquilar a competição, seja porque meios for.
Acreditamos que temos de descobrir o nosso propósito até aos 25 anos. E que aos 30 estarmos a viver de acordo com esse propósito.
E criamos pressão interior para assim ser. E ficamos frustrados se não for assim. Achamos que falhámos.
O propósito pessoal é em verdade uma reconstrução e redescoberta constante ao longo da vida. Só termina quando termina a nossa própria existência.
Não tem de ser um plano rígido.
Não tem uma altura específica para o executar e depois terminou!
Não tem de terminar nunca! Pode ser revisitado! Pode ser reformulado! Pode ser reinventado!
É apenas uma reconstrução permanente para quem se olha por dentro. Para quem está disposto a aprender e a crescer. Para quem tem a coragem necessária para ir fazendos os ajustes necessários.
Nunca é tarde para se descobrir a si mesmo e ao seu propósito.
Requer isso sim, ação. Sair da zona de conforto... vencer a procrastinação e a vitimização!
A primeira vez na vida em que passei a olhar conscientemente para a minha vida e os meus problemas foi após ter feito formação em coaching e PNL e já lá vão 4 anos! Foi através destas duas aprendizagens que aprendi a importância de sabermos olhar para os nossos problemas de fora para dentro e de cima para baixo.
Falámos em posts anteriores como é importante saber pegar num evento, uma contrariedade, um conflito com uma pessoa e saber olhar para dentro de nós contactando com as nossas próprias sombras e sentimentos. Fazendo um trabalho interior de auto-reflexão, perdão, cura e superação. Este é o movimento de fora para dentro... Mas o nosso trabalho não termina aqui..
Há uns tempos ouvi esta expressão de uma médica e terapeuta holística, no que respeita à forma com vemos a nossa própria vida: De cima para baixo como se estivesse a utilizar um elevador - Mónica de Medeiros. Ou seja, ao invés de estarmos muito envolvidos na nossa própria experiência da situação, adquirir esta visão mais distanciada dos acontecimentos e dos envolvidos.
Mónica de Medeiros acrescentou estas perguntas e respostas possíveis:
Tem o mesmo tamanho?
Não. Parece agora menor.
Vê apenas escuridão ou vê um pequeno piralampo de luz?
Vejo um pirilampo de luz....
Que pirilampo é esse? O que ele simboliza?
A esperança, a coragem, a resiliência...
É fundamental praticar o distanciamento racional e afetivo daquilo que nos acontece para termos o melhor discernimento quando tomarmos as nossas decisões. É importante saber relativizar os nossos problemas face ao que se passa no mundo. É importante saber sair do nosso ponto de vista e com empatia ver o ponto de vista do outro, mesmo não concordando com ele. Isto para um maior controlo emocional que nos evita cair no lodo de emoções negativas que nos prejudicam tanto, em especial a nossa saúde física e psíquica.
A filosofia hermética também me deu um importante contributo. Passei a uma visão monádica da existência humana, isto é, passei a considerar que somos uma alma a viver temporárimente num corpo humano e não um corpo humano com alma.
Passei a considerar que DEUS/Divino/Criador como interno a nós - nós somos o divino a expressar-se na relatividade, como centelhas divinas. Um Deus de pura expressão de amor e não um Deus antropomórfico e punidor. Compreendi a importância da dualidade bem/mal para o progresso e expansão do universo.
E por último, saí do papel de vitima passando a compreender melhor o meu papel nos acontecimentos da vida- acolhendo e procurando limpar as minhas sombras.Trabalhando em mim o que eu queria melhorar fora de mim!
Quase toda a minha vida olhei os meus problemas de baixo para cima, ou seja, eu via o problema aqui no meu plano terreno de planeta de 3.ª dimensão, e questionava Deus sob qual o sentido e o propósito disso estar a acontecer comigo. Nesses momentos sentia-me separada do divino ( um ser insignificante e sem qualquer poder) e isso acentuava a minha insegurança e o sentimento de desamparo.
Esta crença, levava-me a estar sempre muito envolvida emocionalmente com a narrativa da minha vida. Mas não tinha a consciência que apenas reforçava o meu sentimento de vitimismo. Eu acreditava que muita coisa era castigo e que eu não deveria de ser merecedora de ser feliz. Sim, eu acreditava na visão antromórfica de um Deus castigador e punidor. Portanto, quando eu me auto-questionava não o fazia de uma forma positiva e construtiva - era muito culpabilizante, envergonhada dos meus maus sentimentos e tinha impulsos vingativos.
Eu achava também que era um corpo com uma alma. Que tinha de me esforçar e de me aprimorar para que quando morresse não ardesse no fogo do inferno e do vale das almas perdidas. Uma visão muito cristã e muito católica embora nunca tivesse feito catequese ou frequentasse a igreja!
Sim, eu sempre me identifiquei essencialmente com o bem e a luz e sempre achei que esse era o caminho a seguir. Porém, nem sempre conseguia ter a paz, a serenidade interior, o controlo emocional necessários para viver uma vida plena e feliz. Nem para ser uma expressão mais expandida e livre de mim mesma...
Vivia aprisionada a um mindset que me desempoderava.
Quando começamos a perceber que tudo o que perspectivamos como problema é na verdade um desafio para crescermos e nos transcendermos, começamos a viver em maturidade e em responsabilidade. Cada pedra no caminho é uma oportunidade de nos revermos e à nossa forma de pensar, de sentir, de nos relacionarmos com os outros e com a vida. Sem esta permamente revisão do nosso próprio comportamento auto-condenamo-nos a viver a mesma vida de sempre e a colher "mais do mesmo".
Deixamos de procurar culpados nas circunstâncias ou nos outros, pois ganhamos uma expansão da nossa capacidade de compreensão, de empatia e de compaixão. Compreendemos que aquilo que não gostamos no outro está em nós ou em alguém muito próximo a nós. Criamos mais empatia pelos nossos erros e fraquezas e as dos outros (que são as nossas espelhadas). Temos maior compaixão pelas nossas próprias dificuldades e as dos outros pois ninguém consegue dar aquilo que não tem!
O foco passa a ser interno. Deixamos de questionar e julgar tanto as pessoas e as circunstâncias pois entendemos que elas apenas espelham-nos. O foco deixa de ser o que o outro disse ou fez mas sim a minha resposta emocional e os meus próprios pensamentos.
Porquê que aquilo me incomodou tanto?
Que emoções senti?
Tenho como resolver?
Como reagi? Fui apropriado? Consegui expressar o que eu realmente sentia e pensava?
QUAIS AS NECESSIDADES INTERNAS QUE NÃO ESTÃO A SER ATENDIDAS?
Esta pergunta foi colocada por Marshall Rosenberg no seu livro Comunicação Não Violenta. Um livro que aborda a temática da comunicação a partir de uma perspetiva construtiva de estabelecimento de pontes de compreensão, de paz e de entendimento entre as pessoas, mesmo em momentos de tensão e de conflito. Não é um livro que ensine a manipular ou a persuadir vendas aos outros, como tantos que há no mercado.
É antes um livro que coloca brilhantemente a questão de que todos tem uma necessidade por satisfazer quando interagimos uns com outros. Saber identificar as necessidades de cada parte e encontrar formas de ambas serem atendidas é construir a própria paz. Ter a capacidade de empatia de nos colocarmos no lugar do outro e entender o que este poderá estar a sentir e que necessidade ele manifesta é meio caminho andado para evitar os juízos de valor que levam à confrontação, competição e partidirização. É procurar entender alguém, mesmo que essa pessoa tenha valores e padrões de comportamento muito diferentes dos nossos.
O que ele descobriu é que não é o que outro faz que nos perturba, mas sim a nossa necessidade não satisfeita. Se fosse apenas a ação do outro, a nossa reação seria sempre a mesma. Mas não é o caso. Perante situações identicas temos reações diferentes.
Explo. Combinamos um encontro com uma amiga e esta chega um bocado atrasada.
1. Posso ficar magoada com ela e sentir que não me deu importância e daí nem respeitar o horário do nosso encontro. - necessidade de valorização pessoal.
2. Posso ficar aborrecida com ela pois tenho mais coisas planificadas para fazer nesse dia e o atraso dela implicar que me atrasarei no restante -necessidade de organização e gestão de tempo.
3. Posso aproveitar o atraso dela para estar um pouco só e reflectir na minha vida, no que tenho para fazer e esse tempo até me saber bem. - necessidade de tempo para si mesmo .
Outro exemplo dado por Marshall ocorreu quando num recreio ele foi separar uma briga e foi agredido por um rapaz com uma cotevelada. De imediato o cérebro dele começou a julgar o rapaz (antipático, violento e mimado). Mas depois ele foi ver o processo desse aluno e percebeu que ele tinha graves problemas familiares que se traduziam no seu comportamento.
Uma segunda fez ele interviu para separar esse rapaz de uma outra briga e novamente foi agredido com cotevelada. Só que desta vez ele não o julgou e apenas compreendeu que ele estava revoltado com a vida.
O livro está repleto de exercícios práticos.
Uma coisa interessante é que podemos utilizar a raiva como um despertador ou alerta de que estamos com alguma necessidade não satisfeita. Assim, sempre que a sentimos vamos questionarmo-nos porque motivo a sentimos. Da mesma forma se a identificarmos no outro também vamos tentar analisar qual a necessidade que o outro tem e que não está a ser atenduida.
Resumindo: Entender qual a nossa necessidade não satisfeita. E qual a dos outros que os levou a agir de determinada forma. Podemos assim descobrir dentro de nós emoções muito fortes para além da raiva como a triteza, a solidão, a falta de afecto, o abandono, a rejeição...
Essa mudança de paradigma pode adicionar conhecimento ao nosso processo de autoconhecimento, apaziguar as nossas emoções, aumentar a empatia e a compreensão e o diálogo com os outros.
Irei partilhar mais dois vídeos desta entrevista nos próximos posts.