A importância das pequenas coisas...
Há dias ao ouvir um autor que muito aprecio, Trigueirinho, ele disse algo que me tocou muito: só depois de você aprender a dar valor às pequenas "coisas" estará preparado para abordar as grandes "coisas".
Muito profundo e para mim foi mesmo um abanão! Eu gosto de reflectir acerca de grandes temas, como já tiveram a oportunidade de constatar, se acompanham minimamente o meu blogue. Nada de mal há nisso. A vida não se resume a comer, dormir, entretenimento e trabalho. A reflexão de grandes temas auxilia-nos a relativar a importância dada a aspetos negativos da nossa existência temporáriamente humana. Ajuda-nos a compreender a importância de viver uma vida com mais propósito e auto-realização. Ajuda-nos a sair do modo de vitimização. Porém, nas nossas reflexões mais expandidas não esqueçamos a importância das pequenas coisas... e como elas nos ancoram à realidade terrena de uma forma positiva e agradecida.
Em termos coletivos sobrevalorizamos as "grandes" coisas. Estas grandes coisas de que agora falo, nada tem a ver com as descritas mais acima, já que a maioria da sociedade humana vive alienada e sem qualquer interesse em reflectir acerca das nossas questões existênciais ou filosóficas! Falo agora Grandes momentos, grande felicidade, grande prazer. Cenas da materialidade 3D onde ainda nos movimentamos. Essa sobrevalorização contribui para o nosso descontentamento de realidades feitas sobretudo de pequenas coisas...
É como se focassemos apenas grandes eventos e ignorassemos e desvalorizassemos o mundo real... Já viram a insatisfação e descontentamento permanentes que se geram?... As pessoas tem muito e nada agradecem. Focamos apenas as coisas grandes... inatingíveis. As vidas das celebridades, dos atores e dos muito ricos.
Creio que esta situação da pandemia pode servir como ilustrativa disto mesmo. As liberdades a que abdicámos, as máscaras, os isolamentos, os confinamentos, o sentir que nada se controla (nem nunca se controlou)... Demonstram como pequenas coisas do nosso quotidiano, são muito mais importantes para a nossa felicidade e bem-estar do que julgávamos...
O canto dos passarinhos, o som de uma risada, o aroma das flores, o som e o azul do mar, o calor do sol a brilhar no alto de um céu azul... uma gentileza de alguém anónimo numa fila de supermercado, a vozinha de uma criança, um chá quentinho no inverno, o conforto da nossa cama, respirar ar fresco, um abraço, um beijo, a extrema eficácia do nosso corpo (uma máquina tão complexa e deslumbrante), o prazer de ler um bom livro, um copo de vinho, uma reunião com amigos, viajar, sonhar de olhos abertos, contemplar a natureza, criar algo, aprender uma coisa nova, experimentar algo de novo... etc, etc, etc...
Tudo isso tomamos por certo. Mas não é... como a experiência pandémica, mais recentemente, veio demonstrar-nos...
AMOR FATI
É uma expressão muito interessante que começou com a filosofia estóica, e que quer dizer: aceitar as coisas como são, abdicar da vontade de controlar os acontecimentos, assumir a sua parte de responsabilidade nos acontecimentos e reagir perante estes de uma forma inteligente e sábia.
Nietzche com a sua Teoria de ETERNO RETORNO voltou a esta noção, referindo que a nossa vida é repetida pela eternidade:
“Você não pode controlar o que acontece com você na vida, mas sempre pode controlar o que sentirá e fará a respeito do que acontece com você.”
Viktor Frankl - autor e sobrevivente de Auschwitz.
O amor Fati não é a resignação passiva, nada disso. É antes ter a lucidez de saber viver a vida tal qual ela é neste momento e não como você gostaria que fosse. É saber ser grato por todas as pequenas coisas que já tem no presente. É saber viver no momento presente, seja ele qual for.
No próximo post partilharei pequenas coisas da minha vida quotidiana que na realidade fazem o meu dia! São as minhas opções de AMOR FATI.