Confiar no fluxo - parte 1

Quando eu tinha à volta de 12 ou 13 anos quase morri afogada no mar. Estava com crianças amigas e familiares a brincar junto à rebentação do mar, e lembro-me de pensar que eu tinha muito equilibrio e resistia bem à rebentação do mar...
De repente, uma onda mais forte puxou-me para dentro (anos mais tarde descobri que estavamos numa zona perigosa designada de agueiro). Quanto vim à tona para respirar umas vezes, pensei: "Deixa-me ver se tenho pé!" - e foi então que vi que não tinha! E engoli mais água e entrei em desespero! Era problemático pois eu ainda não sabia nadar mais que duas ou três braçadas, que aprendi com outras crianças da praia...
Logo outro pensamento me ocorreu: "Sabes boiar! Então boia, grita e acena a pedir socorro!". Foi o que tentei fazer, porém eu estava longe e o ruído do mar abafava os meus gritos. Espreitava lateralmente e vi claramente que ninguém dava pela minha falta e ninguém me ouvia...
Senti o pânico percorrer o meu corpo novamente... Naquele tempo era muito frequente a morte por afogamento e eu já tinha presenciado várias...
Então, senti como se algo ou alguém me acompanhasse naquele momento e me sussurasse ao ouvido: "Tem calma. Vai dando aos braços e pernas de costas e tenta voltar para o areal". Senti de imediato uma grande calma. E foi o que eu fiz.
Após um período de tempo que me pareceu uma eternidade, encaminhei-me lentamente mas consistententemente para o areal, um pouco distante das restantes pessoas que me tinham acompanhado. Fiz diversas paragens pelo meio para descansar e fui retomando aproveitando correntes... Quando cheguei ao ponto que já tinha pé, senti-me instantâneamente aliviada. Sabia que estava salva!
Não tive a coragem de contar aos outros todos os pormenores desta minha experiência, com receio que me achassem louca mas tive a certeza que naquele momento algo ou alguém me acompanhava... Ao longo da vida tive muitas outras experiências similares.
De todas retirei duas importantes lições relacionadas com: confiar no fluxo, e que venho aqui partilhar convosco:
- Quando estamos a atravessar uma situação dificil e entramos em desespero, perdemos o controlo e, como relatei-vos na minha experiência de quase afogamento, o pior cenário pode mesmo acontecer. Nesses momentos é fundamental ter a noção de que tudo passa e se optarmos por acreditarmos que temos em nós teremos os recursos necessários para ultrapassarmos a situação (nesta experiência que vos contei eu não sabia nadar, mas sabia boiar e optei por acreditar que isso me bastaria para me salvar de morrer afogada, ao invés de ter cedido ao pânico da situação).
- Este evento veio demonstrar que eu deveria apostar em aprender a nadar e que não sou mais forte que o mar - uma força a respeitar. Assim, no final desse verão eu contei o sucedido a uma tia , a qual me impulsionou a aprender a nadar, a praticar, praticar, praticar e a adquirir uma melhor forma física. Nunca mais apanhei sustos assim tão marcantes no mar. Ou seja, esta experiência veio evidenciar o que em mim estava a necessitar de ser trabalhado ou melhorado.
E assim é na vida. Em todas as experiências há a descoberta de mais facetas em nós e uma oportunidade de progredirmos nas nossas aprendizagens.
Que o atual momento nos traga maior autoconhecimento e expansão.
