Nesta pandemia é inevitável pensarmos naquilo que perdemos... A liberdade e facilidade de nos reunirmos com familiares e amigos, a demonstração de afectos (abraços e beijinhos), a sensação de segurança (embora ilusória), a participação em eventos, viajar, ir à praia ou fazer caminhadas sem ser controlado e sem preocupação, ir ao supermercado ou a qualquer lugar despreocupadamente... E tantas coisas mais! E depois há aquelas estatísticas diárias de mortos e de infectados que muito contribuem para a nossa ansiedade.
Pois é, pensar nestas coisas não nos deixa num bom estado de espírito... É até um bocado deprimente. Não é edificante, pois drena-nos a energia e a vontade de agir. Este é um estado de falta de recursos.
Assim, desde ontem que tenho procurado reflectir acerca do que posso retirar de positivo desta situação, quer em termos individuais como colectivos...
Haverá mesmo alguma coisa positiva para registar?
E dentro de mim surgiu a resposta de que sim, existe!
Em termos individuais quero realçar:
- Uma vida mais tranquila (por não ter tanto stress com deslocações diárias e estacionamento para ir trabalhar) e por ter uma menor interação com outras pessoas (fonte de drenagem de muita energia) - eu trabalho com o público;
- Ter mais tempo para mim: para reflectir, para desenvolver interesses pessoais, ler, ver filmes, assistir a formações on-line, conversar com a família directa, contactar amigos (redes sociais, telefone) e estar mais atenta às suas necessidades e procurar ajudar.
- Ter mais tempo para a família - e se no início houve alguns conflitos e divergências, agora atingimos uma maior maturidade e entendimento relacional;
- Ter mais tempo para os nossos dois pets (grandes beneficiários do confinamento e do isolamento social)! Tornaram-se dois anjinhos, tendo abandonado as traquinices do passado, nomeadamente os buracos no relvado;
- Uma gestão mais racional de recursos (dinheiro e compras) tendo em mente que esta situação vai ser prolongada e que devemos ser mais responsáveis e prudentes... Se calhar o covid 19 foi o empurrão necessário para se reduzir o consumismo desta família;
- Uma revisão de prioridades, de metas e de objectivos de todos os elementos da nossa família, ajustáveis a esta nova realidade;
- A confirmação de que muitas mudanças internas que iniciei há uns anos me deram ferramentas para enfrentar a presente situação com maior resiliência e tranquilidade.
Portanto, uma série de motivos para sentir gratidão, no meu caso pessoal... A estes motivos acrescentaria também o facto de ter saúde e estar viva e os meus familiares e amigos também... e de ter as minhas necessidades principais asseguradas.
E você, se estiver a ler este post, também poderá rever-se em alguns destes motivos... Ou pode encontrar outros! Pois se tem internet, significa que terá luz, uma casa onde viver, água potável, alimentos, dinheiro para pagar essas despesas... Há quem não tenha... Apenas grande parte da humanidade - e não tem nada a ver com esta pandemia! Este problema mundial existe há séculos!
Algumas pessoas que eu conheço contaram-me não sentir grande diferença nas suas vidas com a presente situação. Uns porque já trabalhavam em teletrabalho, outros tinham um trabalho com horário flexível, e outros ainda estavam em casa reformados ou inactivos. Para estes só a questão da higenização e do distânciamento social, se alterou.
Pelo que observo, aumentou imenso o medo colectivo e a incerteza pelo futuro. Isso é doloroso. E se isso não contribuir para uma mudança da consciência da maioria das pessoas, então mais acontecimentos desafiantes ocorrerão futuramente (na esfera individual e colectiva), pois estamos numa época de mudança de paradigma existencial.
Não, isto não vai voltar a ser igual!
Se mantivermos a capacidade de agradecermos diáriamente por tudo aquilo que a vida nos presenteia, e que antes julgávamos garantido, criaremos contexto para recebermos muitas mais bençãos.
Se optarmos por nos refugiarmos no medo e no desespero, na impaciência, no julgamento dos outros, na irracionalidade e na inconsciência continuaremos a co criar mais do mesmo.
É impossível ser-se grato e ao mesmo tempo estar sempre a reclamar da vida. Ou se é grato, ou se reclama. Recebemos na mesma proporção em que sabemos agradecer ou se vivemos descontentes com tudo e todos.
Eu sei que realidade quero na minha vida! E você, já decidiu qual vai ser?